quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A GRANDEZA DAS ESCRITURAS - SEGUNDA PARTE

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
CAP.I - DA SAGRADA ESCRITURA
Prof. Rev. João Ricardo Ferreira de França

II – A NATUREZA DAS ESCRITURAS.
SEÇÃO II – Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são os seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática:
O Velho Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provér-bios, Eclesiastes, Cantares; Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
O Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos dos Apóstolos, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.
Ref. Ef. 2:20; Apoc. 22:18-19: II Tim. 3:16; Mat. 11:27.
            Vivemos em um tempo no qual a natureza da Bíblia Sagrada não mais levada em consideração. Neste segundo estudos estaremos nos concentrando na Natureza das Escrituras; pois, somente assim poderemos perceber e viver a grandeza da Palavra de Deus. O que nós podemos aprender desta segunda seção da Confissão de Fé de Westminster? Vejamos:
1. A SACRALIDADE DA PALAVRA.
            A primeira consideração a ser feita é a questão da sacralidade da Palavra de Deus. Os teólogos puritanos pensaram muito neste tema a ponto de iniciarem esta seção com a seguinte declaração: “Sob o nome de Escritura Sagrada” O que significa esta declaração?
1.1 – Significa que a Palavra é Santa porque é fruto da vontade de Deus.
            A santidade da Palavra de Deus é notada e percebida porque a mesma é fruto da vontade de um ser que é sumamente santo – esta vontade perfeita nos conclama a uma vida de obediência – isto tem implicações significativas,pois, requer de nós que reconheçamos esta vontade boa e perfeita: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”( Romano 12:2  )
1.2 – Significa que a Escritura é assim adjetivada porque é separada dos demais livros.
            As religiões pelo mundo a fora possuem seus livros. Todavia, apenas a Bíblia é capaz de libertar o homem, de torná-lo sábio para a salvação. O apóstolo nos lembra: “   que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.”( 2 Timóteo 3.15).
            Chama-nos atenção aqui neste texto é o termo:“sagradas letras” -i`era. gra,mmata- hyerá gramata. O termo usado para sagrada é de uma raiz que apenas o sacerdote dignificando assim a natureza da Bíblia Sagrada. Então, a Bíblia continua sendo a Palavra de Deus.
2. A BÍBLIA COMO PALAVRA DE DEUS.
            Em nossos dias existe uma tentativa de fazer uma distinção entre a Palavra de Deus e as Escrituras, ou melhor, entre a Bíblia e a Palavra de Deus; e muitos, pensam que tal distinção é algo novo; todavia, é tão antigo quanto qualquer outro ensinamento. Nesta seção que estamos analisando temos uma resposta sobre a questão da Bíblia como palavra de Deus.
            Os autores da Confissão de Fé declaram: “sob o nome de Sagrada Escritura, ou Palavra de Deus escrita”. Aqui claramente se condenam diversos ensinos que surgiram na história da Igreja e que continuam atuando na mente de muitas pessoas  na atualidade, eis os ensinos que são rejeitados:
2.1 – O Liberalismo Teológico.
            No século XVII e XIX surgiu um movimento conhecido na história como Liberalismo Teológico que em hipótese alguma considerava a Bíblia como Palavra autoritativa  de Deus. Eles ensinavam que a Escritura era cheia de mitos. “Podemos definir o Liberalismo Teológico como o esforço por interpretar, reformular e explicar a fé cristã dentro de uma perspectiva iluminista”.[1]Ou seja, tudo aquilo que a razão não pudesse explicar entrava na categoria de mito.
            O Liberalismo aflora em 1920 e encontra um opositor chamado John Gresham Machen, pastor presbiteriano, que ecoa sua trombeta declarando ser o Liberalismo Teológico um inimigo da fé cristã e sendo outra religião.[2] Um dos grandes expoentes do pensamento liberal foi o Rodolph Bultmann que ensinava a Bíblia na Universidade propondo que a mesma estivesse cheia de mitos, sendo assim, é necessário tirar  os mitos fundantes da Palavra de Deus – e assim, nasce  o processo hermenêutico chamado  de desmitologização das Escrituras.
            Para o Liberal os milagres, as curas e a ressurreição de Cristo não foram reais. Um exemplo clássico disso é a multiplicação  dos pães e peixes realizada por Jesus, onde uma criança traz estes elementos. Bultmann ensina que aquilo não aconteceu milagrosamente, mas que as pessoas viram a atitude do menino e decidiram partilhar tudo o que tinham com o próximo – este é o ensino moral da passagem segundo os liberais.
2.2 – O Barthianismo ou Neo-ortodoxia.
            Neste conflito entre os liberais e os conservadores surgiu um homem chamado Karl Barth que desenvolveu um método para responder as criticas liberais sobre as Escrituras. O método Barthiano ficou conhecido como dialética ou neo-ortodoxia. Para Barth a revelação de Deus se dava em três esferas: na criação, no querygma [pregação] da igreja e na Escritura – segundo ele Deus fala-nos por meio de uma Bíblia cheia de erros e contradições.
            A fragmentação da revelação pela neo-ortodoxia gerou muitos problemas, porque na concepção barthiana havia parte nas Escrituras que eram palavra de Deus e outras não; todavia, o ponto culminante desta concepção de Barth era que para ele a Bíblia se tornava a Palavra de Deus na pregação quando era sentida no coração do ouvinte, em outras palavras o método de Barth era empirista [o conhecimento por meio da experiência] – a medida avaliadora se a Bíblia era Palavra de Deus  estava na experiência do individuo que a recebesse como tal.
            Todos estes dois ensinos não são bíblicos, pois, sabemos que a Bíblia é a Palavra de Deus escrita. Ela não se torna e nem se transforma quando a lemos ou a sentimos no coração. Ela aberta é Palavra de Deus  e fechada continua sendo a mesma verdade divina. Nenhuma experiência pode aprovar ou desaprovar a Palavra de Deus. Foi exatamente isso que o Senhor Jesus nos ensinou em Lucas 16.29-31:
Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos.  Mas ele insistiu: Não, pai Abraão; se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão. Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.
            Esta passagem é importante para nós. Pois, aqui temos uma história de dois homens um rico e um personagem chamado Lázaro, ambos morrem um vai para o céu e outro para o inferno; todavia, o que está no inferno [o rico]  pede para que o Pai Abraão enviasse Lázaro  de volta para mostrar aos seus irmãos que se eles morressem iriam para um lugar de tormentos; mas, tal pedido lhe é negado. E por quê? O texto nos informa porque se eles não escutam a Lei de Deus [Moisés e os Profetas] não importa os milagres  que se faça, não importa a experiência que tenham; a simples recusa em acreditar no que está escrito na Bíblia declara-os réus do juízo de Deus.
3. A UNIDADE DA PALAVRA DE DEUS.
            O terceiro aspecto a ser considerado nesta declaração da Confissão de Fé diz respeito a unidade das Escrituras; pois, nos nossos dias ouvimos pessoas declararem que vivem no tempo da graça [ ou do Novo Testamento ] e que o tempo da Lei [ Antigo Testamento ] passou.
            A Confissão de Fé de Westminster nos ensina de forma clara e inquestionável a unidade das Sagradas Escrituras  sob a seguinte declaração: Sob o nome de Escritura Sagrada [...] incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento. Aqui temos uma resposta ao Dispensacionalismo que tem ensinado uma ruptura entre o Antigo e Novo Testamento. E que nada do Antigo Testamento se relaciona com o cristão do Novo Testamento. A proposta enunciada por este princípio é que Deus tem dois povos. Esta postura  levanta  um dos grandes problemas para os pregadores de nossos dias: a quem deve ser dirigido o Antigo Testamento? A Bíblia de Scofield acentua essa distinção nos seguintes temos:


            O que nos chama atenção na argumentação paulina é que ele diz “tudo” (o[sa- hosa) nada é deixado de fora; o que “foi escrito antecipadamente” (proegra,fh – proegráfê) tem por objetivo o ensino da Igreja. E assim a igreja neotestamentária é confortada e consolada.
A visão interpretativa do Dispensacionalismo ignora substancialmente o ensino de Romanos 11.17 “fomos enxertados na oliveira nos alimentamos da mesma raíz”; isto indica que existe uma unidade basilar e necessária, pois, Deus não tem dois povos, Greidanus comenta o seguinte:


            Então, devemos rejeitar toda e qualquer noção de ruptura entre o Antigo e Novo Testamento não autorizado pela Palavra de Deus; existem descontinuidades sim entre o Antigo Testamento não autorizado pela Palavra de Deus; existem descontinuidades sim entre o Antigo e o Novo Testamentos, mas nada que seja para descartar a totalidade da revelação veterotestamentária.
4. A PALAVRA DE DEUS COMO NOSSA REGRA.
            Os puritanos confessionais declararam: “todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática”. O que é a Escritura sagrada para nós?
4.1 – Uma Regra de Fé.
            O que significa dizer que a Bíblia é a nossa regra de fé? É que tudo o que nós fazemos em matéria de adoração e culto deve está fundamentado na Palavra de Deus; ou seja, tudo o que nós cremos deve ter base bíblica. Devemos estar fundamentados na doutrina dos apóstolos e profetas: “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular;”(Efésios 2.20).
            Tudo aquilo que nós realizamos em matéria de fé deve ser aprovado pelas Escrituras, qualquer crença ou ensinamento  deve ser proposto apartir das Escrituras, seguindo os métodos coerentes de interpretação Bíblica, por meio da análise contextual  da passagem, a intenção do autor e a gramática exegética do texto. Este é o ponto que precisamos considerar sempre que desejamos aplicar um ensino na vida da igreja a partir das Escrituras.
4.2 – Uma Regra de Conduta.
            O segundo aspecto que precisamos analisar nesta declaração confessional é que a Bíblia também é a nossa regra de prática ou conduta. Durante muito tempo se perguntou se os cristãos deveriam ter um manual de ética – e a resposta é um ressonante não! Isto porque a Bíblia já a nossa regra de conduta.
            Isto significa que a nossa ética e moralidade deve ser baseado naquilo que as Escrituras determinam que façamos; pois, toda conduta que esteja em desarmonia com as Escrituras deve ser corrigida, tratada e modificada. A Escritura não nos foi dada apenas para questões doutrinárias, mas também para questões práticas: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2 Timóteo.3.16-17 ).
            Todo o nosso comportamento e vida cristã devem ser baseados e alicerçados pela Palavra inerrante de Deus – ortodoxia e ortopraxia devem ser sempre andar jutos na nossa vida cristã.
Conclusão: A natureza das Escrituras nos mostra a grandeza de Deus em se comunicar com o seu povo. Revelando a santidade de sua mensagem, mostrando-nos que ela é de fato a sua palavra revelacional e por causa disso, vemos a coerência e harmonia entre os dois testamentos que nos conduz para uma vida prática na aplicação de nossa doutrina.





[1] COSTA, Herminstem Maia Pereira da. Raízes da Teologia Contemporânea. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p.287
[2] Para um estudo profundo deste assunto recomenda-se a leitura de: MACHEN, J. Gresham. Cristianismo e Liberalismo. Tradução: Denise Pereira Meister. São Paulo: Editora os Puritanos, 2011.
[3] Apud, SANTOS, Valdeci S. Anotações da Bíblia de Scofield sob uma ótica Reformada. In: FIDES REFORMATA, janeiro – junho, 2000, vol. V, n. 1, pp. 135 – 148.
[4] GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo – Interpretando e Pregando Literatura Bíblica. Tradutor: Edmilson Francisco Ribeiro. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p.211.

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