quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A REJEIÇÃO DE ISRAEL

A REJEIÇÃO DE ISRAEL
Por: Rev. David Chilton
Tradução: Rev. João Ricardo Ferreira de França.

Ele era como os que foram enviados pelo dono da casa para que recebessem os frutos da vinha dos lavradores; porque exortava a todos os homens a retomar o interesse. Porém, Israel o desprezou e não quis retornar, pois sua vontade não era correta, e além do mais mataram aos que haviam sido enviados, e nem sequer se detiveram de atentar contra o senhor da vinha, mas que o mataram. Certamente, quando chegou e não encontrou fruto neles, lhes maldisse por meio da figueira, dizendo; “Nunca mais nasça fruto de ti” [ Mateus 21.19]; e a figueira ficou morta, sem frutos, de forma que até os discípulos se maravilharam quando a figueira secou. Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta: “Farei cessar entre eles a voz de folguedo e a de alegria, e a voz do noivo, e a da noiva, e o som das mós, e a luz do candeeiro.” (Jeremias 25.10 ARA). Porque a obra completa da lei tem sido abolida entre eles, e de agora em diante e para sempre permanecerão sem festas.
Atanásio, Letters [vi]
            Ler a Bíblia em termos do tema do paraíso pode aprofundar nossa compreensão sobre duas passagens mais familiares da Escritura. De repente, podemos entender por que, por exemplo, o Salmo 80 e Isaías 5 descrevem o povo do pacto como  “a vinha do Senhor”. Como temos visto, este era uma recordação do estado original do homem em comunhão com Deus no Éden. Também era um lembrete de que, quando Deus salva o seu povo, lhe constitui em Jardim renovado (ou vinha renovada), e assim, os escritores bíblicos usavam repetidas vezes as imagens de plantar, árvores, vinhas, e frutos para descrever a salvação em seus vários aspectos (João 15 é um exemplo bem conhecido). Contudo, também é importante reconhecer que as imagens do Jardim podem se usar para descrever a apostasia e a maldição, porque a primeira violação do pacto teve lugar no Éden. Deus havia dado a Adão uma comissão para que cultivasse e guardasse sua “vinha”; em lugar disso, Adão se havia rebelado contra o dono da terra, e havia sido amaldiçoado e expulso, perdendo sua herança. Esta imagem dupla da vinha como lugar, tanto de benção como de maldição, é um importante conceito na Bíblia, e se converteu no cenário de uma das mais notáveis parábolas de Jesus, a história dos lavradores maus ( Salmos 80 e Isaias 5 devem ser lidos junto com isto).
Havia um homem, dono de casa, que plantou uma vinha. Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores. Depois, se ausentou do país. Ao tempo da colheita, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os frutos que lhe tocavam.  E os lavradores, agarrando os servos, espancaram a um, mataram a outro e a outro apedrejaram.  Enviou ainda outros servos em maior número; e trataram-nos da mesma sorte. E, por último, enviou-lhes o seu próprio filho, dizendo: A meu filho respeitarão. Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram.
 (Mateus 21.33-39 ARA)
            Em sua graça, Deus havia enviado profetas a Israel ao longo de sua história, e os homens de Deus sempre havia sido tratados aleivosamente. “Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.” (Hebreus 11.37-38 ARA). O fato é que Israel havia rejeitado consistentemente a palavra de Deus e maltratando aos profetas, desde o começo. Como lhes acusou Estevão (justamente antes de ser assassinado pelos líderes judeus):  “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis. Qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os que anteriormente anunciavam a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e assassinos,” (Atos 7.51-52 ARA).
            O maléfico tratamento dos profetas por parte de Israel alcançou seu clímax no assassinato do Filho de Deus, como Jesus predisse em sua parábola. Logo perguntou a seus ouvintes:
Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? Responderam-lhe: Fará perecer horrivelmente a estes malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos. Perguntou-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos.
 (Mateus 21.40-43 ARA)
            Os judeus haviam pronunciado sua própria sentença de condenação. E certamente, a vinha lhes seria tirada; o Senhor viria e lhes destruiriam, e daria a vinha a trabalhadores obedientes que lhe redesse o fruto que Ele desejava. O reino seria tirado dos judeus e dado a outras “pessoas”. Quem seriam estas pessoas? Depois de citar o mesmo texto do Antigo Testamento  que Jesus havia usado, o apóstolo Pedro deu a resposta definitiva, escrevendo à igreja:
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.
 (1ª Pedro 2.9-10 ARA)
            O argumento decisivo é que Deus havia usado esta mesma linguagem ao falar para o povo do pacto, Israel, no Monte Sinai. “sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos [...] vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa.” (Êxodo 19.5-6 ARA). Pedro disse que aquilo que uma vez era verdade com respeito a Israel, agora e para sempre é verdadeiro com respeito à igreja. Israel era um jardim, uma vinha, em rebeldia contra seu dono ou, para mudar a metáfora, uma arvora sem frutos, como disse Jesus em outra parábola:
Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou. Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra?Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la.
 (Lucas 13.6-9 ARA)
            Jesus, o senhor da vinha, passou os três anos de seu ministério viajando por Israel buscando frutos. Agora era tempo de “corá-lo”. João, o Batista havia advertido aos judeus, ainda antes que Jesus começasse seu ministério, que a vinha de Israel estava-lhe terminando o seu tempo:
Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo.
 (Mateus 3.8-10 ARA)
            Este era o problema com Israel. Ainda que os judeus tivessem dado boas-vindas a Jesus em Jerusalém fazendo-o andar sob os ramos de árvores como reconhecimento de sua vinda e restauração do Éden. (Mateus 21.8-9), os ramos não tinham frutos. De maneira interessante, a mesma passagem continua e mostra o que sucedeu depois que Jesus se foi de Jerusalém. Enquanto caminhava, encontrou uma figueira e buscou frutos, porém não encontrou nenhum. Assim prontamente amaldiçoou a figueira, dizendo: “Nunca mais nasça frutos de ti”. E imediatamente a figueira secou (Mateus 21.18-19). O mesmo ocorrerá ao Israel estéril e impenitente.
A Geração Terminal
            Claro que, a culpa recaiu principalmente nos líderes do Israel, os cegos guias dos cegos, que conduziam a nação inteira para o buraco (Mateus 15.14). Por isso, Jesus diria particularmente suas acusações iradas contra eles (veja-se Mateus 23). Porém incluía também ao povo em geral em sua condenação, como podemos ver nas palavras finais de sua última mensagem pública:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque edificais os sepulcros dos profetas, adornais os túmulos dos justos e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas! Assim, contra vós mesmos, testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. Enchei vós, pois, a medida de vossos pais. Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno? Por isso, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas. A uns matareis e crucificareis; a outros açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade; para que sobre vós recaia todo o sangue justo derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o santuário e o altar. Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre a presente geração.
 (Mateus 23.29-36 ARA)
            Os pecados de Israel, suas rebeliões e suas apostasias, se haviam estado acumulando por séculos, enchendo o cálice até transbordar. O ponto crítico chegou quando veio o Filho. Sua rejeição dEle selou sua sorte, e por sua vez foram rejeitados por Deus. A geração que crucificou ao Senhor e perseguiu seus apóstolos era a verdadeira “geração terminal”. Israel, como o povo do pacto, havia de ser destruído, final e irrevogavelmente. Havia recebido a advertência final. Anos mais tarde, pouco antes de que o holocausto do ano 70 d.C. descesse sobre Israel, o apóstolo Paulo escreveu que “os judeus, os quais não somente mataram o Senhor Jesus e os profetas, como também nos perseguiram, e não agradam a Deus, e são adversários de todos os homens, a ponto de nos impedirem de falar aos gentios para que estes sejam salvos, a fim de irem enchendo sempre a medida de seus pecados. A ira, porém, sobreveio contra eles, definitivamente”. (1ª Tessalonicenses 2.14-16 ARA)
            Como nação, Israel havia se convertido em apóstata, uma prostituta espiritual em rebeldia contra seu Esposo (veja-se Ezequiel 16). As terríveis palavras de Hebreus 6.4-8 se aplicam literalmente à nação do pacto, que havia renunciado a sua primogenitura:
É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia. Porque a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada.
            A mesma multidão que deu boas-vindas a Jesus em Jerusalém com hosanas clamou por seu sangue em menos de uma semana. Como todos os escravos, sua atitude era inconstante; porém, finalmente, sua atitude se resumiu em outras parábolas de Jesus: “Não queremos que este reine sobre nós.” (Luca 19.14 ARA) Os principais sacerdotes revelaram a fé da nação quando negaram veementemente o senhorio de Cristo e afirmaram: “Não temos rei, senão César!” (João 19.15 ARA).
            Assim que o povo do pacto herdou a maldição. Haviam feito os ramos ondularem direção do filho do dono quanto entrou na vinha, aparentemente para dar-lhe boas-vindas em sua propriedade legal; mas, quando Ele chegou mais perto e inspecionou os ramos, não encontrou nenhum fruto – somente folhas. Para conservar o modelo que temos visto em nosso estudo do Jardim do Éden, Israel estava maduro para ser julgado, deserdado, e expulso da vinha.
            Porém, não somente tinha os exemplos do Éden, o dilúvio, Babel, e outros juízos históricos como admoestações. Por meio de Moisés, Deus havia dito especificamente que a maldição cairia sobre eles se apostassem da verdadeira fé. Faríamos bem em recordar para nós mesmos as advertências de Deuteronômio 28, onde Deus ameaça com a perda da família e as possessões, ser assolados por diversas enfermidades, sofrer a causa da guerra e a opressão por uma nação pagã vitoriosa, voltar-se ao canibalismo por causa da fome tremenda, e ser vendidos como escravos e dispensados sobre a face da terra.
Assim como o SENHOR se alegrava em vós outros, em fazer-vos bem e multiplicar-vos, da mesma sorte o SENHOR se alegrará em vos fazer perecer e vos destruir; sereis desarraigados da terra à qual passais para possuí-la. O SENHOR vos espalhará entre todos os povos, de uma até à outra extremidade da terra. Servirás ali a outros deuses que não conheceste, nem tu, nem teus pais; servirás à madeira e à pedra. Nem ainda entre estas nações descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso, porquanto o SENHOR ali te dará coração tremente, olhos mortiços e desmaio de alma. A tua vida estará suspensa como por um fio diante de ti; terás pavor de noite e de dia e não crerás na tua vida. Pela manhã dirás: Ah! Quem me dera ver a noite! E, à noitinha, dirás: Ah! Quem me dera ver a manhã! Isso pelo pavor que sentirás no coração e pelo espetáculo que terás diante dos olhos.
 (Deuteronômio 28.63-67 ARA)
            A causa de Israel haver cometido o supremo ato de violação do pacto ao rejeitar a Cristo, o próprio Israel foi rejeitado por Deus. As terríveis maldições pronunciadas por Jesus, Moisés, e os profetas se cumpriram na terrível destruição de Jerusalém, na desolação do templo e a desaparecimento da nação do pacto no ano 70 d.C. (veja-se o Apêndice B para ler a descrição deste evento, e compará-la com as maldições descritas em Deuteronômio 28). Tal como Deus havia prometido, o reino foi realmente estabelecido quando Cristo veio. Porém, em vez de abarcar e assimilar em sua estrutura ao Antigo Israel, o reino veio e fez pó a Israel. O novo templo de Deus, a igreja, foi estabelecido quando o antigo templo foi derribado e reduzido a escombros.









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