domingo, 18 de maio de 2014

A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL.

A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL.
Por: Rev. David Chilton
Tradução: Rev. João Ricardo Ferreira de França.

Anteriormente, os objetos de culto eram variados e incontáveis; cada lugar tinha seu próprio ídolo e o chamado deus de um lugar não podia passar para outro para persuadir as pessoas ali para que o adorassem, mas apenas era ainda reverenciado por seus próprios seguidores. Certamente que não. Ninguém adorava o ídolo do seu vizinho, mas cada um tinha seu próprio ídolo e pensava que este era senhor de todos. Porém agora só Cristo é adorado, como Um e Mesmo entre todos os povos de todas as partes; e o que a debilidade dos ídolos não pode fazer, a saber, convencer aos que vivem próximos, Ele o tem feito. Tem persuadido, não somente aos que viviam próximos, mas literalmente o mundo inteiro, para adorar a Um e o Mesmo Senhor e ao Pai por meio dele.
Atanásio, On the Incarnation [46]
            O antigo Israel foi excomungado, cortado do pacto pelo justo juízo de Deus. Superficialmente, isto representa um sério problema. Que tem ocorrido com as promessas de Deus a Abraão, Isaque e Jacó? Deus havia jurado que seria o Deus da semente de Abraão, que o pacto seria estabelecido com a semente de Abraão, que o pacto seria estabelecido com a semente de Abraão “no decurso das suas gerações, aliança perpétua,” (Gênesis 17.7 ARA). Se a salvação tem passado dos judeus para os gentios, o que isso diz sobre a fidelidade de Deus a sua palavra? Há um lugar para o Israel étnico na profecia?
            As maiorias destas perguntas estão respondidas na Escritura por meio do Apóstolo Paulo em Romanos 11.
A Rejeição de Israel não é total.
         Deus jamais rejeitou por completo ao Israel Étnico, assinala Paulo. Depois de tudo, Paulo mesmo era “Israelita, descendente de Abraão, da tribo de Benjamim” (vs.1). E o de Paulo não é um caso isolado. Na realidade, como ele o demonstra, é consistente com a história de Israel o fato de que só uns poucos deles eram verdadeiros crentes na fé bíblica. Como exemplo, cita a história de Elias (1º Reis 19), que se queixou diante de Deus de que Ele era o único israelita fiel que restava. Deus reprendeu a Elias com a afirmação de que Ele se havia reservado para si sete mil fiéis de Israel, homens que não haviam dobrando seus joelhos diante de Baal. De forma similar, disse Paulo, “assim também ainda neste tempo resta um remanescente eleito por graça” (vs.5). Em sua graça soberana, Deus tem escolhido salvar alguns de Israel, ainda que haja condenado a Israel em geral, de modo que “Israel não tem alcançado o que buscava; porém os eleitos sim tem alcançado, e os demais foram endurecidos” em sua incredulidade, como o ímpio faraó do Egito (v.7; ver 9.14-18). Para a maioria do Israel étnico, “Deus lhes deu espírito de entorpecimento, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir, até ao dia de hoje.” (Romanos 11:8; ver Atos 28.25-28 ARA). Sobre os excomungados do pacto viriam às maldições do Antigo Testamento: “E diz Davi: Torne-se-lhes a mesa em laço e armadilha, em tropeço e punição; escureçam-se-lhes os olhos, para que não vejam, e fiquem para sempre encurvadas as suas costas.” (Romanos 11.9-10 ARA). Contudo, Deus, todavia, tinha seus próprios eleitos no Israel étnico. Como Paulo, seriam salvos. A rejeição de Israel por Deus não foi total.
A Rejeição de Israel não é Final.
            Não só é verdade que sempre haverá uma minoria fiel em Israel, mas que a Palavra de Deus também ensina, que algum dia, uma maioria dentre o Israel étnico será salva.[1]O Povo de Israel, em geral, voltará à fé de seus pais e reconhecerá a Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Sua queda na apostasia não é permanente, disse Paulo. Porque assim como sua exclusão resultou na salvação dos gentios, algum dia a salvação dos gentios resultará na restauração de Israel:
Pergunto, pois: porventura, tropeçaram para que caíssem? De modo nenhum! Mas, pela sua transgressão, veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes. Ora, se a transgressão deles redundou em riqueza para o mundo, e o seu abatimento, em riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude! Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério, para ver se, de algum modo, posso incitar à emulação os do meu povo e salvar alguns deles. Porque, se o fato de terem sido eles rejeitados trouxe reconciliação ao mundo, que será o seu restabelecimento, senão vida dentre os mortos?
 (Romanos 11.11-15 ARA)
            A ordem dos eventos, pois, parece ser como segue abaixo:
1. A apostasia dos judeus resultou na salvação dos gentios;
2. Algum dia, a salvação dos gentios resultará na restauração do Israel étnico; e finalmente,
3. A restauração de Israel causará um reavivamento ainda maior entre os gentios, que (na comparação com todo o corrido anteriormente) será muita maior “riqueza” (vs.12), como “vida dentre os mortos”. (vs.15).
A Oliveira
            Desde o princípio, Deus teve sempre um único povo do pacto. A igreja do Novo Testamento é simplesmente a continuação do verdadeiro “Israel de Deus” (Gálatas 6.16), depois de que o falso Israel havia sido cortado. Paulo mostra como isso ocorreu, usando uma ilustração: Os crentes gentios foram “enxertados” no tronco do povo de Deus, enquanto os ramos israelitas estavam sendo cortadas.
Se, porém, alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo oliveira brava, foste enxertado em meio deles e te tornaste participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; porém, se te gloriares, sabe que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz, a ti. Dirás, pois: Alguns ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Bem! Pela sua incredulidade, foram quebrados; tu, porém, mediante a fé, estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará. Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado.
 (Romanos 11.17-22 ARA)
            Os que são infiéis e desobedientes ao pacto são cortados, sem importar qual tenha sido a sua posição anterior ou qual seja a sua herança genética, enquanto que os que creem são enxertados. Isto contém uma importante advertência para tosos os que professam a religião cristã, para que continuem na fé. Os judeus que abandonaram ao seu Senhor não puderam reclamar as bênçãos e o favor de Deus; e, como indica Paulo, ao mesmo ocorre com os cristãos  gentios. Deus requer obediência e perseverança – como disse Calvino, uma vida de contínuo arrependimento.
Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado. Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos.
 (Hebreus 3.12-14 ARA) [132]
            Porém a rejeição de Israel não é o capítulo final da história. Ainda que o corpo de Israel foi excomungado por sua incredulidade, a restauração ao pacto ocorrerá por meio do arrependimento e a fé:
Eles também, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; pois Deus é poderoso para os enxertar de novo. Pois, se foste cortado da que, por natureza, era oliveira brava e, contra a natureza, enxertado em boa oliveira, quanto mais não serão enxertados na sua própria oliveira aqueles que são ramos naturais!
 (Romanos 11.23-24 ARA)
            Note cuidadosamente que o texto não só diz que Deus pode restaurar ao Israel “natural”, mas que Ele o fará. Este ponto está reforçado nos seguintes versículos:
Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados.
 (Romanos 11.25-27 ARA)
            Como vimos mais acima, Deus endureceu ao povo de Israel na incredulidade (Romanos 11.7-10). Mas este endurecimento era somente temporal, porque Israel como um todo se voltará para o Senhor, como Paulo afirma em outra parte:
Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido. Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado.
 (2ª Coríntios  3.14-16 ARA)
            O endurecimento e a rejeição judicial de Israel não durarão para sempre. Algum dia, o véu será tirado, e o povo em geral se converterá novamente à verdadeira fé.[2]Porém Israel não voltará senão quando tenha entrado a plenitude dos gentios – em outras palavras, quando os gentios em geral se tenham convertido a Cristo (compare-se com o uso da palavra “plenitude” nos versículos 12 e 25 de Romanos 11). E por isso, depois da conversão dos gentios em massa, todo Israel será salvo, em cumprimento das promessas de Deus a seu antigo povo. Ainda que Israel tenha sido infiel, Deus permanece fiel a seu pacto. Agora Israel é inimigo do evangelho, porém Deus todavia lhe ama por amor a seus antepassados. Os privilégios que Deus tem concedido aos israelitas não foram retirados para sempre, e a causa das promessas de Deus, o chamado de Israel no pacto é finalmente irrevogável (Romanos 11.28-29). Paulo repete a lição básica:
Porque assim como vós também, outrora, fostes desobedientes a Deus, mas, agora, alcançastes misericórdia, à vista da desobediência deles, assim também estes, agora, foram desobedientes, para que, igualmente, eles alcancem misericórdia, à vista da que vos foi concedida. Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos.
 (Romanos 11.30-32 ARA)
Resumo:
1. Todo mundo gentil se converterá à fé de Jesus Cristo. A grande massa dos gentios entrará no pacto, até que a conversão dos gentios alcance o ponto de “plenitude” (uma palavra que significa totalidade, o que é completo, Romanos 11.25).
2. O Israel genérico ou judeu se converterá para a fé em Jesus Cristo. Ainda que sempre haverá alguns hebreus que se façam cristãos, o povo judeu como um todo só se converterá depois da conversão dos gentios (Romanos 11.11-12,15,23-27). Isto significa que a chave para a conversão de Israel é a execução prioritária da grande comissão (Mateus 28.19-20), a salvação da nação.


3. Nem todos os gentios ou judeus individuais se converterão.
            A conversão tanto de Israel como dos gentios será análoga à rejeição de Israel. Ainda que Israel como um todo foi cortado do pacto, alguns judeus tem continuado na fé verdadeira (Romanos 11.1-7). Ainda assim, quando os gentios e Israel se tenham convertido como um todo, isto não significa requere que cada um e até o último dos indivíduos em qualquer dos grupos se converta ao cristianismo. Sempre haverá exceções. Porém, assim como a maioria opressiva dos judeus rejeitaram a Cristo quando veio, assim também a maioria opressiva tanto dos judeus como de gentios será enxertada no tronco do fiel povo de Deus.
4. A conversão tanto de judeus como de gentios terá lugar pelos meios normais de evangelismo nesta era.
            Nada se diz aqui de nenhum evento cataclísmico – como a Segunda Vinda – que resultará em conversões em massa. A conversão do mundo em grande escala ocorrerá a medida que o evangelho é pregado às nações; na realidade, esta mesma passagem nega categoricamente qualquer outro meio de conversão (Romanos 10.14-17). A inserção da Segunda Vinda nesta passagem por parte de alguns escritores é completamente especulativa e conduz a confissão. O contexto inteiro exige que a conversão do mundo aconteça como continuação normal de processos já em funcionamento, como o indica claramente uma simples leitura de Romanos 11.11-32. Como disse claramente Charles Spurgeon:  
Eu mesmo creio que o rei Jesus reinará e que os ídolos serão completamente abolidos; mas  espero que o mesmo poder que uma vez colocou o mundo em ordem continue, fazendo-o. O Espírito Santo jamais permitirá que a imputação de que não se pode converter o mundo descanse sobre seu santo nome.
5. O motivo da conversão de Israel será o ciúme.
            Os judeus olharão todas as nações gentílicas ao seu redor desfrutando as bênçãos do pacto prometidas ao Antigo povo de Deus; verão que a misericórdia de Deus se tem estendido ao mundo inteiro; e se porá ciúmes (Romanos 11.11,31; veja Romanos 10.19). Novamente, isto não será o resultado de algum evento cataclísmico (como o arrebatamento), por que é a continuação de um processo já em funcionamento nos dias de Paulo (Romanos 11.14). Os judeus (como o próprio Paulo) já se estavam convertendo por meio destes ciúmes santos, e Paulo esperava restaura a outros pelo mesmo método. Porém aponta para um dia no futuro quando isto ocorrerá em grande escala, e os judeus regressarão à fé como povo.
6. Em todos os tempos, os judeus convertidos pertencem à igreja; não é um grupo separado. Apropriadamente, não existe tal coisa como um  “cristão hebreu”, assim como não há categorias bíblicas separadas de “cristãos índios”, “Cristãos Irlandeses”, “Cristão chineses”, “nem cristãos norte-americanos”. O único modo em que os gentios podem ser salvos é sendo inxertados na “oliveira”, o fiel povo do pacto (Romanos 11. 17-22). E o único modo pelo qual um Judeu é salvo é convertendo-se em membro do povo de Deus  (Romanos 11.23-24). Não existe nenhuma diferença. Por meio de sua obra consumada, Cristo “fez de ambos os grupos um só” (Efésios 2.14). Crer que os judeus e gentios tem sido unidos “em um corpo”, a igreja (Efésios 2.16). Há só uma salvação  e uma igreja, na qual todos os crentes sem distinção de herança étnica tornam-se filhos de Deus e herdeiros das promessas feitas a Abraão (Gálatas 3.26-29). A criação de uma distinção especial judeu-gentio dentro do corpo de Cristo é afinal de contas uma negociação do evangelho.
7. Israel não será restaurado como reino (Mateus 21.43; 1ª Pedro 2.9). A Bíblia promete a restauração de Israel como povo, porém não necessariamente como estado; nada requer que os dois venham juntos. Contudo, ainda supondo que, todavia, haja um estado de Israel  quando os judeus se converterem, Israel seria simplesmente uma nação cristã entre muitas, sem nenhuma importância especial. O povo de Israel genético será parte da arvora da vida do pacto, porém já não há nenhuma importância religiosa que pertença à Palestina. O mundo inteiro se coverterá no reino de Deus, no qual todas as nações terão igual valor dentro desse reino.
“Naquele dia, Israel será o terceiro com os egípcios e os assírios, uma bênção no meio da terra; porque o SENHOR dos Exércitos os abençoará, dizendo: Bendito seja o Egito, meu povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança.” (Isaías 19.24-25 ARA)
8. A Conversão de Israel resultará em uma era de grandes bênçãos para o mundo inteiro. Haverá cumprimentos ainda maiores das promessas do pacto, uma superabundância de riquezas espirituais, tanto assim que, em comparação com o estado anterior do mundo, será como vida para os mortos (Romanos 11.12,15).  Aqui é quando as promessas bíblicas das bênçãos terrenas do reino alcançará seu cumprimento maior e mais completo. O monte Santo de Deus haverá abarcado ao mundo, e “a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar”. (Isaías 11.9 ARA). 




[1] NT – a perspectiva de Chilton é Pós-milenista contrária a posição deste tradutor. As reflexões teológicas sobre este ponto são gritantes: 1. Cristo veio apenas para judeus nos seu primeiro advento; ( 2) A morte de Cristo foi um acidente temporal e não predeterminado? ; (3)  E por último, nós os gentios fomos eleitos no tempo por um circunstância temporal?  Essas indagações [ e conclusões teológicas e exegéticas]  me levam a não aceitar esta proposição do David Chilton.
[2] Nota do Tradutor: A passagem anteriormente citada elimina esta perspectiva escatológica do David Chilton – pois a passagem claramente indica que os judeus eleitos [que são alvos da graça de Deus em Cristo] é que voltará para a verdadeira fé.

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