sábado, 7 de outubro de 2017

A Arte do Contentamento Cristão

O CONTENTAMENTO CRISTÃO
Por
Rev. Ronaldo Soares dos Santos*
O puritano Jeremiah Burroughs, escreveu um tratado intitulado “A rara joia do contentamento cristão”.[1] Para ele, o contentamento cristão é um mistério difícil para o homem compreender, e somente a graça de Deus é que pode nos ensinar a combinar tristeza e alegria numa experiência comum de paz e contentamento. Para Jeremiah, contentamento é o fruto de um coração grato.
O consumismo tem sido uma das marcas de nossa geração. Tudo é descartável. Hoje, determinada coisa pode ser boa para o uso até surgir à próxima inovação. O fato, é que no geral, a medida do contentamento parece que nunca encontra o seu limite. Parece que é algo que sempre está por acontecer, mas nunca acontece. Normalmente, dizemos que no dia em que tivermos este ou aquele bem, ou alcançamos esta ou aquela virtude ou graça, aí então encontramos a medida de nosso contentamento. A verdade, é que sempre haverá algo por atingir, um bem que ainda não alcançamos, uma conquista que nos falta e etc. Parece-nos que o contentamento está sempre na próxima curva. Tudo isso tem levado muitos a passarem suas vidas lamentando e murmurando, mesmo tendo o suficiente para viver. É como diz um ditado popular muito conhecido: “vivem chorando de barriga cheia”. Isso é pecado!
Diante de tudo isso, pergunta-se: é possível um cristão viver nesse mundo contente e satisfeito independente das circunstancias?   
Sim, é possível. Em Filipenses 4.10-13, descreve o apóstolo Paulo declarando que aprendeu a viver contente “em toda e qualquer situação”. Para ele, tanto a humilhação quanto à honra, tanto a riqueza quanto a pobreza, tanto a fartura quanto a fome, não eram impedimento para o seu estado de contentamento. É importante sabermos que o contentamento para Paulo não significava uma acomodação em relação aos desafios da vida e da missão, nem tampouco um desinteresse por melhorar e crescer. Trata-se de um estado de alma que possui em Cristo tudo quanto lhe é necessário para sua alegria, paz e comunhão com Deus independentemente das circunstâncias.
Então, Paulo nos diz a razão, ou a base, para o seu contentamento: “Tudo posso naquele (Cristo) que me fortalece” (vs. 13). Deste modo, Paulo revela que o poder fortalecedor de Jesus é o segredo do seu contentamento.
Mas, como é possível experimentá-lo em nossos dias? Como o Apóstolo Paulo descobriu esse segredo?
Em primeiro lugar, Paulo aprendeu – ( vs.11b). A primeira lição que podemos tirar do estado de contentamento do Apóstolo Paulo é que ele “aprendeu”.  O verbo “aprender” refere-se “aprender por experiência”. Isso significa dizer que esse contentamento espiritual não era algo que ele havia assimilado imediatamente depois da conversão. O apostolo teve que passar por várias experiências a fim de aprender a viver contente. Ele considerava cada experiência boa ou ruim uma excelente oportunidade para amadurecer no seu relacionamento com Cristo e encarar as adversidades da vida de modo confiante.  
Em segundo lugar, Paulo aprendeu a viver contente – (vs.11b). A palavra traduzida por contente (no grego: autarkes) significa “autossuficiente.” Era uma das palavras prediletas dos filósofos estoicos. Os estoicos consideravam uma grande virtude a capacidade pessoal de se distanciar das circunstancias externas e encontrar em si mesmo os meios para lidar com quaisquer situações. Paulo usa o mesmo termo, contudo, com uma conotação diferente. Para Paulo, o poder ou capacidade para passar por diversas contrariedades, e ainda assim se manter contente, não vinha dele mesmo, mas estava em Cristo – “Tudo posso naquele que me fortalece”. Paulo não estava rindo em meio ao sofrimento; o que ele estava afirmando é que em Cristo ele podia superar qualquer sofrimento vitoriosamente.                
Em terceiro lugar, Paulo aprendeu viver contente “em toda e qualquer situação” – (vs.11c ).  A experiência do Apostolo vivida ao longo da sua vida com Cristo, fazia com que ele passasse as mais variáveis situações sem perder a serenidade:
__Na hora da humilhação e exaltação: SERENO;
__Na hora da fartura e fome: SERENO;
__Na hora da abundância e escassez: SERENO.  
Finalmente, Paulo declara: “Tudo posso naquele que me fortalece” – (vs.13). As aplicações mais comuns que dão a este texto são: Tudo posso ter, fazer, adquirir, conquistar, prosperar naquele que me fortalece. Todavia, não foi isso que Paulo pretendeu dizer. Considerando o contexto, o que realmente Paulo quis dizer foi: “estou pronto para passar por qualquer coisa por meio da força daquele que vive em mim.”
Era o poder de Cristo na vida do Apóstolo Paulo que lhe dava o contentamento espiritual para viver em qualquer situação. Ele aprendeu porque Cristo o fortalecia, a viver contente porque Cristo o fortalecia, em toda e qualquer situação porque Cristo o fortalecia.
Portanto, conclui-se que, a base do contentamento cristão é uma completa dependência do poder de Cristo. Em Cristo temos tudo que precisamos para viver uma vida de satisfação, paz e alegria. Ele é o Pão que sacia a nossa fome, a água que alivia nossa sede, a luz que ilumina nossa estrada e o caminho que nos conduz até ao céu.
Que possamos aprofundar o nosso relacionamento com Cristo a tal ponto de não perdermos o contentamento quando formos surpreendidos por algum infortúnio nesta vida. Antes, busquemos nele a suficiência de que necessitamos para superar as mais variadas situações. Cristo mesmo diz para aqueles que confiam nele: “...contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei. Assim, afirmemos confiadamente: O Senhor é o meu auxílio, não temerei” (Hb 13.5b-6a).




* Ministro da Palavra e dos Sacramentos pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Atualmente é Pastor da Igreja Presbiteriana da Fraternidade em Feira de Santana – BA. É casado e tem um casal de filhos.
[1] Obra publicada pela Publicações Evangélicas Selecionas (PES).

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